segunda-feira, 29 de março de 2010

NARDONI, O REALITY SHOW


Posted: 28 Mar 2010 07:00 AM PDT
#over12
Poi Zé

txt: Tiago Jucá Oliveira

Você poderia responder pra mim algumas questões sobre nossa sociedade: quantas pessoas agonizam na fila de algum hospital neste exacto momento por falta de recursos pra saúde pública? Qual o número de crianças que estudam com fome por desvio de verba escolar? Quantos adolescentes estão “fazendo amor” com seus pais ou padrastos agora? Quanto ganha um policial que repassa armas pra traficante? Qual o tamanho do estrago ambiental que madeireiras, plantadores de soja e criadores de gado fazem na Amazônia diariamente? Quantas pessoas morrem nas estradas esburacadas, pois os recursos públicos foram desviados? E, pra finalizar, pergunto: quantos casos assim sequer são julgados?

Poi Zé, agora imagine você se a mídia tratasse dessas questões com o mesmo entusiasmo que cobre o julgamento do casal Nardoni. Transmissão ao vivo, helicóptero com imagens aéreas sobre o camburão que leva os dois para o presídio, manchetes de primeira página durante uma semana, cinegrafistas na carona do motoqueiro perseguindo a mãe da vítima.

A cobertura do caso foi uma das piores coisas que o jornalismo brasileiro já produziu. E a reação da opinião pública igualmente nojento. Fogos de artifício, top ten no Twitter, multidão em frente ao fórum. Uma das cenas que retratam o nível em que chegamos de intolerância democrática: um rapaz exibe solitário um cartaz de apoio aos Nardoni, e uma mulher tenta arrancar de suas mãos o democrático direito de se expressar. Também foi triste de assistir à explosão de alegria popular quando a sentença do juiz é proferida. Aquele povo todo comemorando a desgraça alheia, para a assim poder justificar suas cagadas diárias. “Bato na minha mulher, mas pelo menos não mato minha filha”, é capaz de se desculpar algum amigo do goleiro Bruno.

Quando somos medíocres, a única coisa que nos torna melhor é justamente o defeito do outro. Basta observar a igreja da imbecilidade, BBB, e a reação de quem o assiste. “Fulano tem que ir pro paredão porque é mal”. E lá vai ele gastar mais um trocado em ligação telefônica pra por o bicha ou o homofóbico, “exemplo desse tipo de gente que não presta”, na rua.

O caso Nardoni não deixa de ser um Big Brother. E o que questiono diante de tanta vibração quando um promotor ou o Bial anuncia o paredão: o que isso vai mudar na sua vida? Você acordou mais feliz hoje porque os Nardoni vão mofar anos na prisão e o Dourado pode ir pra rua? Sentimento de justiça num país injusto? Então desligue a TV e vá fazer plantão no Planalto Central.

Ah, minha opinião sobre o caso: é óbvio que eles são os culpados pelo assassinato, mas não nego que torci pela absolvição de ambos. Seria o estopim pra uma revolução popular no Brasil. Com certeza, os manifestantes e justiceiros que ontem estavam no Fórum hoje estarão no Projac pra apedrejar o eliminado do BBB. A justiça com as próprias mãos, mano, é só ligar. Somente 39 centavos mais os impostos. Pena que ninguém queira eliminar os impostos.

Não gostou do texto? Me indique ao paredão!

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